domingo, 27 de abril de 2008

Aviso Prévio

Desenganar é desmentir.

Despedir-se de si
É dessarte dessorrir, dessonhar
Despertar

O desengano é destro.
Desplantado, despido
Destino
De ser

O desenganado é o desperdício desistir
Desvício de sentir
É desvidrar
A vida

topada

A culpa é toda tua
e do teu (fogo de) artifício.

Minguante


O fim do túnel

O ruído que fazia
Meus passos na calçada
Denunciava que chovera
Enquanto ainda havia
Alguma esperança no céu

Mas agora o fim do túnel
Está cheio de luzes
Artificiais

Não sei se é a solidão
Ou somente o que é insólito
Ou o insólito quer somente solidão
Mas a noite já não é tão criança
Quanto costumava ser

Não sinto culpa
Pelos meus pecados,
Por permanecer acordado,
Tenho muitas opções agora
E deixo pra lá o que for muito complicado

Tudo é muito fácil
Como o gole
Como o sexo
Como a insônia
Como a vida que se deixa escapar
Como a política e a história
Que se passam debaixo do tapete
E como tudo é sempre uma questão de ponto de vista

Como os discursos bêbados
Não vêm que as luzes todas
São artificiais?

Não existe verdade

A fome, a miséria e a felicidade
Nascem do mesmo útero

Tudo é Real

Enquanto busco meu desejo
Sinto meu ser existindo
Cada inspiração é uma inflação
Cada sorte é um acaso
E cada trevo um bem-me-quer

A calçada é a trilha.
No meu mp3 não há mais trilha sonora
Que se adeque aos meus passos
Eu tenho meu próprio ritmo
Sigo sempre a percussão do caminhar
Que compete com a chuva
Que ameaça voltar

Mal-me-quero

Enquanto realizo meus desejos
Sinto meu ser desistindo...
Quando a escuridão não é total
O que eu penso é real.
Toda sombra parece algo
Cada sombra é uma metáfora
Cada esquina um verso...

Pra que poesia
Se agora eu já tenho o que queria
E já não sei o que quero?

A madrugada acabou
As luzes se apagavam
Os ratos voltam ao bueiro
Os homens vestem ternos
A sujeira, os tapetes

Alguma coisa inadequada aparece no céu
Os freios dos ônibus parecem sinos
E a grande orquestra ruidosa se aquece
Para mais uma grande apresentação

Vai começar a velha missa

O ruído que fazia
Meus passos na calçada
Só eu ouvia
Só eu me importava em olhar pra baixo
E não pra frente
É que o sol incomodava a vista e a existência.

Como os discursos bêbados
Não vêm que todas as luzes
São artificiais?