segunda-feira, 30 de junho de 2008

LP

O som
Que eu quero ouvir
Começa assim
Como uma fogueira
Quase-no-fim

Eu fico assim
Olhando lugar algum
|E por alguns segundos
Tudo está mais livre
(do que eu)
O que aconteceu
Com o resto de tudo?

Eu
Sobrevivo assim
Vou aos poucos
Como uma fogueira
Quase-no-fim

Eu fico assim
Olhando lugar algum
E por alguns segundos
Eu me encontro pra sempre

E tudo é grande demais
Nesse ecoar menor enorme
Tudo é pouco e demais (a)onde o mundo jazz.

Circuito Aberto

Acordou, beijou a mulher, escovou os dentes, beijou a mulher. Vestiu uma roupa fora de moda. Bebeu café e leu qualquer coisa repetida. Esqueceu o que leu. Pegou as chaves, a carteira e o celular. Abriu a porta, saiu...
A mulher acordou, foi pro banheiro e sentiu cheiro de menta. Sentiu saudades. Olhou no espelho. Rugas pueris. Escovou os dentes. Bebeu café, comeu um pão, ligou a tv. Limpou a casa. Fez comida, comeu, guardou o resto na geladeira. Saiu pra ver o sol e os prédios. Viu gente, viu cores, viu carros, viu o sol e viu os prédios. Viu uma árvore. Tocou suas folhas e sujou a mão de pó. Voltou pra casa, comeu. Viu tv. Rezou e foi dormir preocupada e sozinha e com medo. De novo.

Carta de Garrafa

Agora que você se foi, eu consigo pensar melhor. Às vezes isso é tão ruim. A sua ausência me desprotege, desagrega. Mas a vida é minha e eu nunca dispenso. Prefiro pensar. Prefiro cismar que é desábito e me desloco, soberana e com medo de não saber qual é o meu nado.
Desprotegida, eu me entrego ao desejo e não sei se volto. Eu estou saindo daqui diariamente, mas não como você fez, quando sua vida traiu meu coração mortal. Estou saindo daqui pra prostituir minha subjetividade e depois voltar, confusa e com fome.
Desprotegida, eu me entrego ao frio. Bem no meio do calor da multidão eu flano fria. O frio de pensar melhor consome minhas energias, me definha e me dá fome.
Desprotegida, eu me entrego ao medo e me abraço. Eu tento suprir minha ausência, da sua partida até então. Meus braços, que eram um pedaço do seu abraço, no seu vazio me servem de salva-vidas. Com minhas mãos eu flutuo nesse oceano que você quis saber, desprotegida.
Mas eu sinto a fome que água traz ao corpo...