segunda-feira, 30 de junho de 2008

Carta de Garrafa

Agora que você se foi, eu consigo pensar melhor. Às vezes isso é tão ruim. A sua ausência me desprotege, desagrega. Mas a vida é minha e eu nunca dispenso. Prefiro pensar. Prefiro cismar que é desábito e me desloco, soberana e com medo de não saber qual é o meu nado.
Desprotegida, eu me entrego ao desejo e não sei se volto. Eu estou saindo daqui diariamente, mas não como você fez, quando sua vida traiu meu coração mortal. Estou saindo daqui pra prostituir minha subjetividade e depois voltar, confusa e com fome.
Desprotegida, eu me entrego ao frio. Bem no meio do calor da multidão eu flano fria. O frio de pensar melhor consome minhas energias, me definha e me dá fome.
Desprotegida, eu me entrego ao medo e me abraço. Eu tento suprir minha ausência, da sua partida até então. Meus braços, que eram um pedaço do seu abraço, no seu vazio me servem de salva-vidas. Com minhas mãos eu flutuo nesse oceano que você quis saber, desprotegida.
Mas eu sinto a fome que água traz ao corpo...

Nenhum comentário: